Não se poderia imaginar um melhor começo para os oitavos-de-final do Mundial, que teve dois duelos sul-americanos bem disputados, com heróis, de lado a lado, a oferecerem os seus contributos para a história de uma competição que se vai tornando numa das mais belas das recentes edições. Um dia de descanso não foi suficiente para recuperar o fôlego, com 120 minutos e grandes penalidades numa partida e 90 minutos de verdadeira guerra na outra.
Sampaoli não é uma brincadeira
A energia do treinador do Chile, que corre a sua área técnica em todas as direções durante o jogo, como se caminhando mais claras se tornassem as suas ideias, vai fazer-nos falta no resto do Mundial. No entanto, Jorge Sampaoli sai ainda mais reconhecido do que entrou. Se o imaginário o empurra a ser mais um dos discípulos de Bielsa, com Sampaoli sentimos poder oferecer viabilidade aos sonhos. Tendo vergado taticamente o Brasil, ao Chile faltou um pouco mais pernas e um pouco menos de poste. Mas, Sampaoli, esse, parece ter chegado para ficar.
As lágrimas de Júlio César
Enquanto os seus colegas se concentravam para a marcação das grandes penalidades, Júlio César chorava. O guarda-redes saiu como um dos culpados do Mundial 2010 e, com a quebra na sua carreira profissional, onde passou do Inter de Milão para o Toronto, com paragem pelo QPR, muitos duvidavam da sua capacidade para assegurar a defesa das redes de um candidato ao título. Por antecipação daquilo que o esperava, Júlio César confiava no choro para exteriorizar a sua própria confiança. E nas grandes penalidade renasceu das cinzas.
Pinilla e a barra
Pinilla não será, nunca, um génio do futebol. O que outros conseguem por puro talento ou genialidade, Pinilla alcança por ser Pinilla. Tantas vezes ausente e pesado sobre o relvado, por momentos, como aconteceu ontem no minuto final do Brasil – Chile, Pinilla ameaça ser outra coisa. A bola embateu na barra, o Chile acabou eliminado. O mito de Pinilla, esse, continua vivo.
Um só nome: James
Um jogador, menos de um minuto. A respiração que trava perante a bola que sente já como vai ser dominada. A incredulidade de a ver descrever um novo caminho para o destino de chegada. O esfregar de olhos para confirmar que a bola entrou. James Rodríguez. Mas há mais. Cada vez que El bandido tocava a bola sentia-se o pânico na defesa contrária. Era justificado. O relvado parecia alargar-se. As possibilidades multiplicavam-se. Chegou outro golo. James dançou, entre os seus colegas. A Colômbia ganhou.
Todos são Suárez
As inúmeras máscaras de Luis Suárez que inundavam as bancadas onde estavam adeptos uruguaios podem ser um hino à capacidade que um talento tem para unir os amantes do futebol, mas não deixavam, também, de provocar um certo desconforto. O Uruguai foi um adversário justo e ambicioso, inteligente e combativo, mas sem Suárez, apenas pode ficar à beira dos grandes momentos, não parece ter o direito de participar neles. E a verdade é que Suárez não esteve presente por culpa própria. A sua máscara não assusta ninguém. Ou é o jogador que aprender a manter-se em campo, ou ser Suárez é encontrar o caminho de casa.